Muito mais que um gênio ou filósofo renomado, Tycho Brahe é considerado o primeiro dos grandes observadores modernos que realizou a árdua tarefa de coletar dados que serviriam para dar fundamento prático às teorias que já haviam sido apresentadas e aquelas que ainda estavam por vir. Ele foi o responsável pela maior quantidade e as mais precisas observações astronômicas jamais realizadas até o século XVI.
Durante sua estada em Copenhague, onde cursou retórica e filosofia, ele presenciou, aos treze anos de idade, um eclipse solar anunciado com muita antecedência pelos astrônomos. Esse fato, despertou nele o interesse pela astronomia, vindo a obter as efemérides (tabelas com as posições diárias dos astros) e passando a dedicar suas noites à observação do céu.
A cultura astronômica de Tycho Brahe, formada na leitura assídua do Almagesto, de Ptolomeu, desenvolveu-se durante os anos de 1562 a 1565 em Leipzig, Alemanha, graças exclusivamente aos seus próprios esforços. Embora utilizasse instrumentos rudimentares, demonstrou imperfeições no pensamento de Ptolomeu, passando a chamar a atenção dos astrônomos para a necessidade de instrumentos mais precisos e técnicas de observação mais acuradas. Nesse período, em 1563, ele observou uma conjunção (proximidade no céu) de Júpiter e Saturno (a chamada “grande conjunção”), e notou que as tabelas de Copérnico estavam erradas em vários dias na previsão desse evento. Foi quando ele decidiu coletar dados de observações astronômicas de forma mais precisa e produzir tabelas também mais precisas.
No ano seguinte, em 1966, num duelo de sabres com um nobre dinamarquês, ele acabou perdendo um pedaço do nariz, passando a usar uma prótese (de prata ou bronze, muito bem esculpida segundo os historiadores). Esse incidente, fez com que ele passasse a ter uma vida um pouco mais reclusa, aumentando ainda mais sua dedicação aos estudos astronômicos.
Primeira descoberta
Depois da morte de seu pai, em 1570, Tycho Brahe retornou à Dinamarca. Graças ao consentimento da família, instala, então, um observatório astronômico no castelo de Herritzvad e, na tarde de 11 de novembro de 1572, ele descobre, com precisão extraordinária para a época, a exata posição da "estrela nova", na constelação de Cassiopéia. O nascimento de uma supernova foi um fato revolucionário para a época, pois se supunha que o espaço das estrelas fixas era imutável. A sua publicação “De nova stella” (Sobre uma nova estrela) em 1573, o tornou conhecido em toda a Europa. Em 1574, ele publica a obra “De nova Stella” (Sobre a nova estrela), onde contesta a visão aristotélica de um universo fixo, perfeito e imutável.
A obra de Tycho portanto, em sua parte astronômica, é uma mistura de observações exatas e apreciações errôneas. A obra de Tycho, apesar disso, no seu conjunto, pareceu excelente e foi bastante disseminada na Europa fazendo a reputação do seu autor. Como consequência, ele é convidado para ministrar um curso de astronomia na Universidade de Copenhagen.
O sistema proposto por Tycho era um tanto mais complexo, pois propunha uma distribuição ao mesmo tempo geocêntrica e heliocêntrica, onde o Sol e a Lua orbitavam a Terra e os demais planetas orbitavam o Sol. Esse sistema, tinha a vantagem de atender aqueles astrônomos que não estavam satisfeitos com os modelos mais antigos mas relutavam em aceitar o conceito do movimento da Terra, o que também acomodava a questão religiosa que colocava o homem no centro do universo.
Apesar da sua proposta ter um maior apelo aos astrônomos insatisfeitos, suas observações teimavam em desmenti-lo. Devido a isso, sua maior ambição passou a ser a criação de tabelas exatas dos movimentos planetários, e sua vida foi uma longa preparação para esse objetivo, que ele apesar de não conseguir concluir, deixou todos os elementos necessários para sua execução futura.
Em 1575 realiza viagem de estudos pela Europa, principalmente Alemanha e Itália. Volta à Dinamarca em 1576, e por insistência do rei Frederico II, que lhe concede, por doação, a ilha de Hven e uma pensão anual, Brahe constrói um novo e melhor observatório astronômico, o Uranienborg (“Castelo do Céu”), um observatório auxiliar e laboratórios.
O céu mutável
Em 1577, por ocasião da passagem de um grande cometa, Tycho demonstrou que este se movia entre as esferas dos planetas, e, portanto, que o céu não era imutável, e as "esferas cristalinas", concebidas na tradição greco-cristã, não eram entes físicos. Apesar da discordância dos astrônomos daquele período, as observações de Brahe foram confirmadas.
Tycho foi o primeiro astrônomo a calibrar e checar a precisão de seus instrumentos periodicamente, e a corrigir suas observações por refração atmosférica. Também foi o primeiro a instituir observações diárias, e não somente quando os astros estavam em configurações especiais, descobrindo assim anomalias nas órbitas até então desconhecidas.
Depois da morte de Frederico II em 1588, seu sucessor, Cristiano IV, reduziu consideravelmente a pensão anual de Brahe. Durante os anos seguintes, a sua relação com o novo Rei, Cristiano IV e com a igreja ficaram cada vez piores. Desiludido, Brahe deixou a Dinamarca em 1597. Aceita, então, o convite do rei Rodolfo II e se instala no castelo de Benatki, em Praga.
Usando instrumentos muito básicos e muitas observações a olho nu, Tycho Brahe preparou a mais completa lista de estrelas que existiu na Europa. No ano de 1598 publica a “Digressões sobre mecânica astronômica”, obra na qual descreve os instrumentos que ele mesmo inventou e ajudou a construir. Em janeiro de 1600 recebe a visita de Johannes Kepler, que se tornará seu discípulo. Sua lista de 777 estrelas, formou a base para o trabalho de Kepler, seu sucessor em Praga. Brahe morreu em Praga em 1601.
A obra-prima de Tycho Brahe foi editada, depois de sua morte, por Kepler, com o título de “Novos conceitos astronômicos de Tycho Brahe”. O livro reúne estudos de rara amplitude e extraordinário rigor.
Ainda que Tycho Brahe tenha procurado conciliar a velha doutrina geocêntrica de Ptolomeu com a teoria heliocêntrica de Copérnico - no sistema cosmológico de Brahe, todos os planetas, com exceção da Terra, giram em torno do Sol, e este, acompanhado pelos planetas, gira em torno da Terra -, sua produção científica inspirou o trabalho de importantes cientistas: Kepler, Galileu e Newton.
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