sábado, 20 de dezembro de 2014

Iniciando na Astronomia Observacional Amadora – parte 1

Em minha opinião, na astronomia amadora, não existe uma pergunta de um milhão de dólares.


Na verdade, os iniciantes fazem sempre DUAS perguntas, cujas respostas certas deveriam valer muito dinheiro, e continuam sendo buscadas incessantemente.

Aqui vou tentar dar uma contribuição para responder à primeira pergunta:
"Como eu faço para começar na astronomia observacional amadora?".

No início, você vai precisar buscar o máximo possível de informações em livros e na própria internet. Por outro lado, o investimento necessário em equipamento, é nenhum, ou praticamente nenhum.
Três itens vão ser necessários para iniciar na astronomia:


Um bom par de olhos

 Saber localizar os pontos cardeais. Uma bússola vai ser útil para isso.

Estudar a localização e as distâncias dos corpos celestes, para isso, o uso de uma das mãos estendida a distancia de um braço, vai ajudar. E também a movimentação desses corpos celestes ao longo do ano, onde uma carta celeste poderá ser usada.

No início, vai ser conveniente estabelecer um ponto fixo de observação, mas com o tempo, você vai ser capaz de localizar rapidamente tanto os pontos cardeais quanto os astros, mesmo mudando o ponto de observação.

Quanto ao primeiro item, não há muito que eu possa fazer para ajudar. Se tem bons olhos, conserve-os. Vá regularmente ao oftalmologista e siga as recomendações dele.


Quanto aos pontos cardeais, uma bússola barata deve resolver. E aqui vai a primeira dica: que bússola devemos comprar? Ora, a bússola, como de resto, qualquer equipamento, é fabricada em várias versões e configurações, e portanto, a diferentes preços. Existem bússolas de precisão para fins cartográficos que podem chegar a R$ 900,00, outras intermediárias para fins de mergulho e atividades militares, cujo preço gira em torno de R$ 200,00. E no outro extremo, temos aquelas bússolas de brinde, que não custam nada porém também não servem de nada.


A necessidade para fins de observação astronômica, é de uma bússola simples, com um mínimo de qualidade e que tenha características que sejam úteis nessa atividade.
Um item opcional que pode ser bastante útil em campo, é uma lanterna de LEDs na cor vermelha, para que sua pupila permaneça dilatada quando você consulta uma carta celeste por exemplo.


Não vamos usar a bússola para nos orientar num mapa por exemplo, então itens como mira, lentes, apoio para o polegar e espelhos, são desnecessários. O importante para uma atividade de observação astronômica noturna, é que as marcações sejam grandes o suficiente e de cor clara que sobressaiam no escuro. Um certo grau de fosforescência, é conveniente.


IMPORTANTE: Nunca adquira uma bússola com uma bolha de ar no líquido que envolve a agulha. Se ganhar uma assim, paciência (já me aconteceu duas vezes), mas tenha ciência que bússolas com bolhas de ar, estão irremediavelmente defeituosas e deveriam ser descartadas no controle de qualidade do fabricante.


Existem bússolas mais sofisticadas com bolhas de nível, no entanto, essas estão localizadas ou em compartimentos separados do da agulha ou se dentro do compartimento, numa câmara separada.


Segundo minha experiência recente, consegue-se bússolas de qualidade bem razoável por preços que variam entre R$ 20,00 e R$ 30,00.

Considerando todo o exposto acima, eu ainda não consegui uma bússola cujos marcadores sejam de material reflexivo, mas esta que escolhi, é bem chamativa, possui marcação de cor clara e os caracteres são bem grandes.


Escolhida a bússola, o próximo passo é estabelecer com a ajuda dela, os pontos cardeais do local escolhido para as observações. Nesse ponto, é necessário alertar que na astronomia, a referência é o Norte geográfico e não o Norte magnético. O Norte magnético indicado por uma bússola, é também uma aproximação. O Norte magnético portanto, serve apenas como uma referência inicial. O Norte geográfico, que nos interessa, está deslocado do magnético em cerca de 23,5 graus à Oeste daquele, aqui no Rio de Janeiro por exemplo.

Para conseguir uma boa aproximação, considerando que você vai usar uma bússola de baixo custo e vai fazer suas observações à noite, existe um site que faz o cálculo preciso da declinação para você. Basta fornecer as coordenadas da sua cidade e acionar o botão “Calculate” (calcular), nesse site:

NOAA - Estimated Value of Magnetic Declination

Existe um outro site do tipo em que você pode navegar num mapa, apontar a clicar sobe o local desejado.

Magnetic Declination

A declinação magnética de um local é a medida do ângulo formado entre a direção do norte magnético, apontado pela agulha de uma bússola, com relação à direção do norte verdadeiro (geográfico).

Uma declinação positiva ou leste significa que o norte magnético está desviado do norte verdadeiro no sentido horário. Exemplos: 12°, 10°L e 11°E (east).


Uma declinação negativa ou oeste significa que o norte magnético está desviado no sentido anti-horário. Exemplos: -10°, 13°O e 8°W (west).


Existem duas formas de se apontar para o Norte verdadeiro com uma bússola: A primeira e mais óbvia, é regular a bússola de forma que a agulha aponte para o Norte magnético e em seguida girar a bússola de acordo com o sentido da declinação pelo número de graus, de forma que a agulha acabe apontando para o Norte verdadeiro. Porém, se você possui uma bússola com a marcação sobre uma superfície que gira, basta manter a bússola apontando para o Norte magnético, como é sua função, e girar o marcador no sentido contrário ao da declinação, ou seja: se a declinação é negativa, ou Oeste, como no Brasil, gire o marcador no sentido horário o número de graus necessários. Caso a declinação seja positiva, como na Nova Zelândia, gire o marcador no sentido anti-horário. Dessa forma, a agulha continua apontando para o Norte magnético e a letra “N” do marcador, vai estar apontando para o Norte verdadeiro.


Vejam nesse vídeo:

Encontrando o norte magnético e verdadeiro com uma bússola

Sabendo onde você está, e sabendo os pontos cardeais, o próximo passo é obter um mapa do seu céu. Estamos falando aqui, de uma série de aproximações, então procure identificar os principais objetos celestes e a partir deles os demais.

Seguem alguns sites onde você pode encontrar referência de eventos e mapas do céu.

MAST - Céu do mês

Esta é uma instituição oficial com publicação regular. No final da página existe um link para a carta celeste do mês, muito didática e bem feita.

Se você quiser acessar cartas de meses anteriores, basta alterar o nome do mês no link, como nos exemplos abaixo:



Este outro site, já aceita cidades do Brasil e de Portugal e localiza sua posição automaticamente:

Heaves Above - Mapa do céu

Neste outro site, você informa sua localização e tem várias opções de visualização e impressão:

Your Sky

Nesse outro, se você está próximo a um computador ou leva o seu notebook ou tablete para o campo, é bem direto. Basta acessar, compartilhar sua localização e começar a explorar o céu:

Planetarium

Eu prefiro usar uma carta do céu do mês por ser mais específica e direta, no entanto, quem quiser ter uma ferramenta de uso constante nesse quesito, pode optar por um Planisfério Celeste. Se for essa a opção, procurem adquirir um de fonte confiável, e claro referente a latitude mais próxima da sua cidade. A maioria dos fornecedores só fornece planisférios do hemisfério Norte. Tem que procurar um pouco, e mesmo assim, quando encontram eles são muito abrangentes (enquanto para os do hemisfério Norte eles produzem versões diferentes com variações de 10 graus, para o hemisfério Sul em geral tem apenas uma que vai de 20° a 50°). Claro que você tem opções para fazer o seu próprio planisfério, mas aí já envolve habilidades manuais, que eu por exemplo, não possuo.


Para finalizar, depois de se localizar em relação aos pontos cardeais verdadeiros, e de posse de um mapa celeste, uma informação útil é: como medir as distâncias em graus entre os astros.

Normalmente, localizamos um corpo celeste mais destacado, e a partir dele procuramos os demais. Em astronomia, as distâncias entre os astros são normalmente especificadas em graus. O motivo é simples: a esfera celeste (de um horizonte ao outro) abrange 180 graus. Do horizonte ao zênite, que é a parte superior da esfera, temos a metade, 90 graus. E é útil saber avaliar distâncias angulares intermediarias.

Essas distâncias podem ser medidas de forma aproximada, com suas mãos: para a maioria das pessoas, a relação entre a largura da mão e o comprimento do braço é um valor constante. Sendo assim, com o braço estendido, um adulto pode obter uma estimativa de valores angulares usando partes de sua mão como na figura abaixo.


Um exemplo de aplicação seria esse:


Por vezes torna-se muito útil ao observador saber a distância em graus entre objetos astronômicos, ou outros. Se a medição não exigir muito rigor podemos determiná-la de imediato com uma boa aproximação usando um instrumento natural, a mão. Exemplo: o enxame das PLÊIADES (M45) cabe num campo de 1° e duas das estrelas ou “guardas” da Ursa Maior (Dubhe e Merak) estão separadas por 5°.


Aqui, um outro exemplo de aplicação prática:


Por enquanto, é isso. No próximo artigo vou tentar responder a segunda pergunta dos iniciantes em astronomia:

"Qual deve ser o meu primeiro telescópio?".

Céus limpos e boas observações!


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